Irmãos e irmãs, uma característica do Evangelho de Jesus Cristo
segundo São João é a insistência no senhorio de Cristo, o qual se
manifesta antes mesmo do seu Mistério Pascal
(Paixão-Morte-Ressurreição). Jesus é o Senhor em todos os momentos de
sua história terrena e circunstâncias, ainda que tenham existido no
passado – e até hoje – fatos que pareçam comunicar o contrário.
Na perícope evangélica apresentada pela Sagrada Liturgia em Jo 6,1-15
nos é apresentado Jesus, os apóstolos e uma multidão faminta do Pão da
Palavra, mas também necessitada do pão como alimento material. É Jesus, o
Pão Vivo descido do Céu, quem mais ama imensamente a humanidade, e por
isso se revela o mais sensível ao homem integral e suas necessidades
básicas e transcendentais.
Então, a Boa Nova apresenta o Senhor tomando, incansavelmente, a
iniciativa do diálogo: «Onde vamos comprar pão para que eles possam
comer?» (v.5). São João faz questão de ressaltar: «Disse isso para pô-lo
à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer» (v.6). Como é
belo e verdadeiro constatarmos que o senhorio de Cristo não se impõe,
revelando-se assim, um Deus sensível e amoroso, sem deixar de ser
Onipotente e Todo-Poderoso. Ele não é tirano nem déspota!
A Santíssima Trindade, comunhão divina, plena e total das Três
Pessoas revela-se como fonte e paradigma de comunhão e participação para
o ser humano e a Igreja de Cristo. Retornando ao Evangelho e sua
dinâmica, percebemos que, pedagogicamente, o Senhor Jesus estabelece um
diálogo, dá tempo para pensarem a realidade, até que, num ato realista,
possam reconhecer a verdade, mas sem fechar as portas para o impossível
que somente Deus poderia realizar: «Filipe respondeu: Nem duzentas
moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um. Um dos
discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: Está aqui um menino
com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta
gente?» (vv.7-9). E pela Palavra e Poder do Espírito Santo, o Ungido do
Pai realizou o milagre da multiplicação dos pães e peixes em prol
daquela multidão e também a favor de cada um de nós!
Jesus, com os apóstolos, forneceram o pão do sustento corporal às
pessoas daquele tempo, os quais se alimentaram com as mãos e pela boca. A
nós, depois de mais de dois mil anos, o alimento espiritual da Verdade
que liberta entra em nós pela escuta e fé no Cristo que sempre é atual,
pelo Espírito Santo: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre» (Hb
13,8).
Claro que é perceptível, nos Evangelhos, que as palavras e sinais de
Cristo, anunciadores do Reino dos Céus e Fundador de Sua Igreja,
revelam-lhe como causa primeira de todo o bem que salva. Mas nem por
isso os discípulos estão dispensados de cooperar com o seu Mestre e
Senhor, ainda que seja um desafio de fé e razão a relação do homem com o
Deus que procura agir também por causas segundas.
O Papa Emérito, em seu último livro, traduziu muito bem estes dois
pólos de uma possível comunhão e participação: «Graça e liberdade
compenetram-se mutuamente, e não podemos encontrar fórmulas claras para
exprimir o seu operar uma na outra» (Bento XVI, A infância de Jesus,
67). No entanto, o querer e procurar a Vontade de Deus sempre será
parte nossa e meio de participação e comunhão com os desígnios do Senhor
na história pessoal, família e eclesial.
O resultado de uma resposta generosa à generosidade primeira de Deus
está muito bem representado neste mesmo Evangelho: «Recolheram os
pedaços e encheram dozes cestos com as sobras dos cinco pães, deixada
pelos que haviam comido» (Jo 6, 15). Não é difícil percebermos a carga
simbólica agregada a este acontecimento histórico, quando ao mistério da
Eucaristia, que o próprio evangelista escolheu expressar no mesmo
capítulo, um pouco mais à frente, no discurso sobre o Pão da Vida (cf.
Jo 6, 30-58).
Por fim, os primeiros discípulos de Cristo experimentaram o poder de
Deus, presente e atuante no Filho e por meio d´Ele, agora no mesmo
Espírito Santo que o acompanhou em toda a sua caminhada terrena.
Precisamos nos aceitar como profundamente amados e chamados a cooperar
com o Amor que quer “multiplicar” os corações tocados e comprometidos
com a transformação deste mundo sedento de um alimento que o leve a
reconhecer e proclamar: «Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que
deve vir ao mundo» (Jo 6,14).
Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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